“Government is essentially the negation of liberty.” — Ludwig von Mises (“O governo é essencialmente a negação da liberdade.”) “The institution of the state establishes a socially legitimized and sanctified channel for bad people to do bad things.” — Murray N. Rothbard (“A instituição do estado estabelece um canal legitimado e ungido para pessoas más fazerem coisas ruins.”) “[The state is] an institution run by gangs of murderers, plunderers, and thieves, surrounded by willing executioners, propagandists, sycophants, crooks, liars, clowns, charlatans, dupes, and useful idiots — an institution that dirties and taints everything it touches.” — Hans-Hermann Hoppe (“[O estado é] uma instituição conduzida por gangues de assassinos, saqueadores e ladrões, tendo à sua volta dispostos executores, propagandistas, patifes, vigaristas, mentirosos, palhaços, charlatões, imbecis e idiotas úteis — uma instituição que suja e macula tudo que toca.”) “Socialismo es todo sistema de agresión institucional contra el libre ejercicio de la acción humana o función empresarial.” — Jesús Huerta de Soto

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

terça-feira, 11 de agosto de 2015

As lições econômicas de Game of Thrones (Matthew McCaffrey & Carmen Elena Dorobat)

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Observações sobre as causas do declínio da civilização romana (Ludwig von Mises)


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Tradução: Donald Stewart Jr.
Revisão: Marcelo Werlang de Assis

A compreensão dos efeitos da intervenção do governo nos preços de mercado permite que nós entendamos as causas econômicas de um evento histórico da maior importância: o declínio da civilização romana.
Não é preciso esclarecer se a organização econômica do Império Romano poderia ou não ser qualificada como capitalista. De qualquer forma, não há dúvida de que o Império Romano no século II, o período dos Antoninos — os “bons imperadores” —, atingira alto grau de divisão do trabalho e de comércio inter-regional. Diversos centros metropolitanos, um número considerável de cidades médias e inúmeras pequenas cidades eram as sedes de uma civilização refinada. Os habitantes dessas aglomerações urbanas eram abastecidos de alimentos e matérias-primas não apenas pelos distritos rurais vizinhos, mas também pelas províncias distantes. Uma parte dessas provisões fluía para as regiões urbanas como renda de ricos proprietários de terras que residiam nas cidades. Mas uma parte considerável era comprada da população rural, que, em troca, recebia os produtos fabricados pelos moradores das cidades.
Ocorria um comércio intenso entre as várias regiões do império. Havia uma tendência cada vez maior à especialização não apenas nas indústrias de transformação, mas também na agricultura. As várias partes do império já não eram mais economicamente autossuficientes; elas se tornaram interdependentes.
O que provocou a queda do império e a ruína da sua civilização foi a desintegração dessa interdependência econômica — e não as invasões bárbaras. Os agressores externos simplesmente se aproveitaram de uma oportunidade que lhes foi oferecida pelo enfraquecimento interno do império. De um ponto de vista militar, as tribos que invadiram o império nos séculos IV e V não eram superiores aos exércitos que as legiões derrotaram facilmente algum tempo antes. Mas o império mudara; a sua estrutura econômica e social se tornara medieval.
A liberdade que Roma concedia ao comércio interno e externo sempre foi limitada.
Em relação ao comércio de cereais e de outros gêneros de primeira necessidade, ela era ainda mais restrita do que em relação ao comércio das demais mercadorias. Era considerado injusto e imoral pedir pelo trigo, pelo azeite e pelo vinho — gêneros de primeira necessidade daquele tempo — preços maiores do que os habituais, e as autoridades municipais rapidamente reprimiam o que considerassem especulação. Impedia-se, assim, o desenvolvimento de um eficiente comércio atacadista dessas mercadorias. A política da annona, que era equivalente à estatização (municipalização) do comércio de cereais, pretendia corrigir essa falha; mas os seus efeitos foram bastante insatisfatórios. Os cereais se tornaram escassos nas aglomerações urbanas, e os agricultores se queixavam de que o cultivo não era remunerador. A interferência das autoridades impedia que a oferta se ajustasse a uma crescente demanda.
A “hora da verdade” chegou quando os imperadores, diante dos distúrbios políticos dos séculos III e IV, resolveram recorrer à degradação da moeda. A combinação de uma política de preços máximos com a deterioração da moeda provocou a completa paralisação tanto da produção quanto do comércio dos gêneros de primeira necessidade, desintegrando a organização econômica da sociedade. Quanto mais eficaz era o tabelamento de preços imposto pelas autoridades, maior era o desespero das massas urbanas, as quais não tinham onde comprar alimentos. O comércio de grãos e de outros gêneros de primeira necessidade desapareceu por completo. De modo a evitar a morte por inanição, as pessoas fugiam da cidade para o campo e tentavam produzir, para si mesmas, cereais, azeite, vinho e tudo aquilo de que mais necessitassem. Por outro lado, os grandes proprietários rurais reduziram a produção de excedentes agrícolas e passaram a produzir nos seus domínios — as vilas — os produtos artesanais de que precisavam. A agricultura em larga escala, já seriamente comprometida pela ineficiência do trabalho escravo, tornava-se completamente inviável pela falta de preços compensadores. Os proprietários rurais não conseguiam mais vender nas cidades; os artesãos urbanos perdiam a sua clientela. Para o atendimento das suas necessidades, os proprietários rurais passaram a contratar diretamente os artesãos para trabalharem nas suas vilas. Eles abandonaram a agricultura em larga escala e se converteram em meros recebedores de rendas dos seus arrendatários e meeiros. Esses coloni eram escravos alforriados ou proletários urbanos que voltavam para o campo. As grandes propriedades rurais foram se tornando cada vez mais autárquicas. As cidades, o comércio interno e externo e as manufaturas urbanas deixaram de exercer a sua função econômica. A Itália e as províncias retornaram a um estágio mais atrasado da divisão social do trabalho. A estrutura econômica da antiga civilização, que alcançara um nível tão alto, retrocedeu ao que hoje é conhecido como a organização feudal típica da Idade Média.
Os imperadores se alarmaram com essa situação que solapava o seu poder militar e financeiro. Mas reagiram de maneira infrutífera, sem atingir a raiz do mal. A compulsão, a coerção a que recorreram não podiam reverter a tendência à desintegração social, a qual, pelo contrário, era causada precisamente pelo excesso de compulsão e coerção. Nenhum romano tinha consciência do fato de que o processo era provocado pela interferência do governo nos preços e pela deterioração da moeda. Em vão os imperadores promulgaram leis contra os moradores, que relicta, civitate rus habitare maluerit (“abandonavam a cidade, preferindo viver no campo”). O sistema da leiturgia — serviços públicos que deviam ser prestados pelos cidadãos ricos — apenas acelerou ainda mais o retrocesso da divisão do trabalho. As leis que dispunham sobre as obrigações especiais dos armadores, os navicularii, não conseguiram sustar o declínio da navegação, da mesma maneira como as leis relativas aos cereais não conseguiram impedir a escassez de produtos agrícolas nas cidades.
A maravilhosa civilização da antiguidade desapareceu porque não soube ajustar o seu código moral e o seu sistema jurídico às exigências da economia de mercado. Uma ordem social está fadada a desaparecer se as ações necessárias ao seu bom funcionamento são rejeitadas pelos padrões morais, são consideradas ilícitas pelas normas do país e são punidas pelos juízes e pela polícia. O Império Romano se esfacelou por ter ignorado o liberalismo e o sistema de livre iniciativa. O intervencionismo e o seu corolário político, o governo autoritário, destruíram o poderoso império — da mesma forma como necessariamente desintegrarão e destruirão, sempre, qualquer entidade social.

Texto retirado do capítulo 30 do livro Ação Humana — Um Tratado de Economia, de Ludwig Heinrich Edler von Mises.
O último parágrafo do escrito acima merece ser repetido:


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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O jardim da inveja de Piketty (Theodore Dalrymple)

 
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Tradução: Marcelo Werlang de Assis

O ressentimento é a única emoção que pode durar a vida inteira e que nunca desapontará você. Em comparação, todas as demais emoções são passageiras e falíveis. Eu tentei odiar alguém por anos; isso, entretanto, revelou-se impossível: o ódio desaparece como as cores das flores prensadas. Mas o ressentimento! Ele é a solução perfeita para o seu fracasso na vida. E, graças a Deus, todos nós cometemos falhas em algum sentido ou outro, pois nada seria tão insuportável, causando tanto ressentimento, quanto o sucesso total.
O sucesso dos outros fomenta o ressentimento, especialmente o sucesso em uma área na qual você gostaria de ser bem-sucedido. Sempre que eu leio um trecho de prosa maravilhosa, eu experimento o prazer dessa leitura, é claro; mas esse prazer, muito antes, mistura-se com a irritação e, por fim, com o ressentimento. Por que o meu semelhante é capaz de escrever algo mais elegante, mais perspicaz, mais poético e mais conciso do que eu? O que ele fez para merecer o seu talento? A sorte dos escritores de língua inglesa é que Charles Dickens, por exemplo, tinha muitos e graves defeitos, pois, caso contrário, a genialidade autoevidente e transcendente de alguns dos seus parágrafos os paralisaria, minando a sua vontade de pegar caneta e papel ou de mexer os dedos no teclado.
Como se costuma dizer nos romances russos, chega de filosofia. Vamos agora descer da atmosfera rarefeita da abstração e nos deslocar para a realidade sórdida de um fenômeno real — neste caso, o fenomenal sucesso de um livro chamado Capital no Século XXI, do francês Thomas Piketty. Ele está vendendo tão rápidamente que as impressoras não conseguem acompanhar a demanda. Não se encontra a obra nas livrarias, mesmo (nas palavras de Lane, o mordomo do personagem Algernon em The Importance of Being Earnest, de Oscar Wilde) com dinheiro vivo.
Isso é realmente impressionante, uma vez que Thomas Piketty não é Dan Brown, o qual vende tolices abertamente supersticiosas escritas em prosa abominável para os crédulos pós-religião. Não: o livro de Piketty é grande, com centenas de páginas, e está recheado de dados misteriosos, que agora temos de chamar de fatos. Felizmente, eu comprara uma cópia desse livro quando ele apareceu pela primeira vez na França; e, em razão da sua rápida ascensão ao status de ícone internacional, eu tenho a esperança de que a minha edição original seja, no momento oportuno, considerada uma preciosa relíquia sagrada com propriedades curativas.
Obviamente, ter comprado um livro e tê-lo lido não são a mesma coisa. Infelizmente, apesar do seu tamanho e do seu peso, eu o perdi. Mas eu o carregava comigo por um tempo, assim como, há muitos anos, quando era um estudante de medicina, eu carregava comigo um livro de patologia, na esperança de que eu aprenderia o seu conteúdo por meio de um processo de osmose através das capas. No entanto, concluí que tinha de abri-lo e aprender apenas o suficiente para passar nos exames. Desnecessário dizer, eu esqueci tudo desde então.
Eu não costumo escrever sobre livros que não li; e eu suponho que, na minha vida, devo ter analisado pelo menos uns 500 livros. Seria falsa modéstia negar que eu li todos eles, incluindo muitas vezes as notas de rodapé, bem como negar a minha solidariedade e a minha empatia com os autores, até mesmo com os autores de livros tão ruins que eu considerava apenas ético fazê-lo — e isso apesar do fato de que não é preciso comer o pote inteiro de manteiga para saber que ela está estragada.
Todavia, duas ideias da obra de Piketty parecem ter sido discutidas com maior vigor em todas as análises que li sobre o seu livro; assim, eu suponho que elas devem representar o cerne daquilo que ele escreveu.
A primeira ideia é a de que há, em relação ao valor do capital, uma tendência de longo prazo a aumentar mais rapidamente que o ritmo de crescimento da economia como um todo; e, já que a maioria das pessoas depende, para a sua sobrevivência, do seu trabalho em vez do seu capital, a desigualdade de riqueza só pode aumentar, chegando ao ponto de se tornar social e politicamente insustentável. Isso pode ser colocado em termos malthusianos: o valor do capital aumenta geometricamente, ao passo em que o valor do rendimento do trabalho aumenta aritmeticamente. Ou, de novo, em termos marxistas: “Em uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em conflito com as relações de produção existentes. (...) Em seguida, começa uma era de revolução social.”
Mas Piketty não é um revolucionário; muito sensatamente, ele deseja evitar uma agitação violenta. Os meios através dos quais propõe isso é a sua segunda ideia: um imposto global sobre o capital — presumivelmente, para atingir realmente o seu desejado fim de uma maior igualdade, um imposto substancial.
Em primeiro lugar, analisemos a primeira ideia. Eu hesito em expor o meu próprio caso mais uma vez diante do público, mas alego a atenuação de que, pelo menos, trata-se de um assunto sobre o qual sou relativamente especialista. Como me prejudica o fato de que a proporção entre a riqueza de Bill Gates e a minha excede o quociente entre a minha riqueza e a de alguém que se encontra sob os cuidados do assistencialismo estatal? Eu me considero uma pessoa afortunada: eu nunca passei por quaisquer privações e dificuldades, pelo menos por nenhuma que não fosse a consequência do meu próprio comportamento ou das minhas próprias escolhas. Já fui pobre, mas não passei fome. Jamais sofri injustiça flagrante, exceto algumas detenções injustas em países da má fama (foi culpa minha tê-los visitado, embora, é claro, eu os tenha adorado).
A fortuna de Bill Gates só me prejudica se eu deixar o ácido da inveja e do ressentimento corroer a minha mente. Isso não significa dizer que algumas fortunas não possam ter sido adquiridas de maneira imoral e ilícita: por exemplo, as fortunas de muitos oligarcas russos. Há algo de errado com essas riquezas não porque elas são muito maiores que a minha, mas sim porque elas foram adquiridas de forma imoral e ilícita. Não há dúvida de que existem muitas áreas cinzentas entre a legitimidade completamente branca e a escura negritude da desonestidade absoluta, mas as óbvias incertezas da vida devem ser suficientes para refrear e conter o nosso ressentimento.
Quanto ao imposto sobre o capital, Piketty está certo ao dizer que ele tem de ser global, pois, caso contrário, haveria fugas de capitais ou restrições locais muito severas sobre os movimentos de capitais — e isso não seria economicamente produtivo ou propício à igualdade. Um imposto global sobre o capital, porém, exigiria uma autoridade mundial para estabelecê-lo, arrecadá-lo e impingi-lo — com efeito, uma espécie de União Europeia gigante. Sinto-me feliz porque não estarei vivo para ver isso ocorrer, mas eu duvido que alguém, nascido ou não nascido, chegará a ver isso acontecer, pelo simples motivo de que os chefes supremos desse governo mundial precisariam de um paraíso fiscal no qual colocar o seu próprio dinheiro.
Eu suspeito que o enorme sucesso desse livro de Piketty seja uma homenagem ao nível de ressentimento que impera no mundo — e não o resultado de uma sede por conhecimento, especialmente entre aqueles indivíduos suficientemente ricos para comprá-lo, usando-o, em grande medida, como um reles acessório. A verdade, como Edward Gibbon nos ensina, raramente encontra uma recepção tão favorável no mundo. Eu posso estar errado, pois ainda não li a obra. Entretanto, posso invejar o seu sucesso.

Theodore Dalrymple é um dos pseudônimos do médico psiquiatra e escritor britânico Anthony Daniels (o seu outro pseudônimo é Edward Theberton). Ele escreve sobre arte, cultura, medicina, política e educação. Na sua obra, Dalrymple frequentemente argumenta que as visões esquerdistas e progressistas que prevalecem nos círculos intelectuais do Ocidente diminuem a responsabilidade dos indivíduos pelas suas próprias ações e erodem a moral tradicional, contribuindo para a formação, nos países ricos, de uma subclasse afligida pela violência endêmica, pela criminalidade, pelas doenças sexualmente transmissíveis, pela dependência do assistencialismo estatal e pelo uso abusivo de drogas. Muitos dos escritos de Dalrymple, que foi médico de uma prisão inglesa, baseiam-se na sua experiência com criminosos e doentes psiquiátricos.


O mito do poder da Coca-Cola (Jeffrey Tucker)


Tradução: Marcelo Werlang de Assis


Eu, muito tempo atrás, perdi o gosto pela Coca-Cola. Talvez a causa se encontre nas suas bolhas efervescentes há simplesmente muitas delas. Ou talvez o motivo seja, na sua versão americana, a doçura pegajosa do xarope de milho (subsídios para o milho e tarifas sobre o açúcar estão por trás disso). Ou talvez a razão seja o fato de que, depois de tomar uma dose, eu sinto um zumbido louco seguido por uma explosão devastadora. Eu jamais consegui entender como é que alguém ainda permanece acordado depois de um hambúrguer gigante, uma poderosa porção de batatas fritas e uma coca enorme.
Parece que não estou sozinho aqui. A Coca-Cola anda sofrendo com vendas em declínio na América do Norte e até mesmo no globo inteiro. O preço das suas ações foi atingido. Os gostos dos consumidores parecem estar mudando, migrando das bebidas fortemente açucaradas e saturadas de ácido carbônico para a água engarrafada, as bebidas desportivas e os energéticos. No drive thru do fast food da minha localidade, eu percebi que eles estavam promovendo as suas próprias bebidas geladas especiais em detrimento das bebidas gasosas convencionais.
Por que isso importa? Agora, batucando nos meus ouvidos, ecoam os muitos anos de comentários histéricos de intelectuais que criticavam o suposto poder que a Coca-Cola exerce sobre o planeta inteiro. Eles se queixam de que os símbolos da Coca-Cola praticamente adornam o mundo todo; dizem que essa bebida engana as massas faz mais de um século; argumentam que essa bebida é o sinal mais visível da corrupção do capitalismo.
Mas espere! Certamente, as pessoas podem decidir beber ou não beber. Não, não, diz a elite intelectual que constantemente nos avisa do “mito da escolha” no mercado. Nós somos governados por forças estranhas que se encontram fora do nosso controle. Nós temos o receio de que, se não fizermos isso, se não bebermos a coca, não faremos parte da tendência predominante, não nos adequaremos às expectativas impostas corporativamente em relação à maneira como deve ser o nosso comportamento. Em vez disso — em vez de poder escolher —, nós somos os peões de um jogo no qual essa assustadora empresa exerce o supremo papel de rei.
Bem, pense novamente. O que acontece é que o verdadeiro poder está nas mãos dos consumidores. Pare de consumir algo, e essa coisa desaparece. É assim que o mercado funciona. Nem mesmo um legado de 127 anos e uma tradição cultural aparentemente invencível são capazes de obliterar a decisão básica de comprar ou não comprar.
Outro sinal do declínio da Coca-Cola é o fato de que ela recentemente caiu do primeiro para o terceiro lugar no ranking das marcas globais mais respeitadas. O novo número um é a Apple, e o número dois é o Google. Com efeito, dentre as 100 marcas que se encontram no topo, todas aquelas que apresentam movimentos mais rápidos são empresas de tecnologia. Trata-se de uma prova de como a comunicação está mudando o mundo. Mais comunicação significa mais concorrência bem como a derrocada de hábitos arraigados.
Eu posso não morrer de amores pela bebida, mas nunca entendi o ódio que ela causou e continua causando. A Coca-Cola ostenta uma imensa contribuição à história cultural com a sua maravilhosa publicidade que se estende por todo o século XX. Você pode definir as décadas pelo brilhantismo dessa publicidade os desenhos das antigas lojas de bebidas gasosas (soda-jerk); as campanhas de “ensinar o mundo a cantar”; o urso polar; ou as atuais fantásticas homenagens ao comércio além-fronteiras que reforça a paz e combate o desejo pela guerra.
Eu ainda me lembro de, alguns anos atrás, estar sentado na arquibancada em um jogo de baseball e de me maravilhar com a absoluta imensidão do símbolo da Coca-Cola que estava pairando sobre o estádio. Por que essa empresa teve de gastar tanto com publicidade? Com certeza, nenhuma pessoa que estava sentada no estádio desconhecia a coca. Então, qual é o porquê dessa mania de promover a marca?
A publicidade, por si só, demonstra que a Coca-Cola, na verdade, não tem um “poder” sequer semelhante àquele que a polícia possui. Ela não tem a capacidade de obrigar as pessoas a beberem o seu produto. Essa publicidade, efetivamente, não significou desperdício de dinheiro. Ela estava promovendo a marca na esperança de mantê-la constantemente nas nossas mentes, bem como fazendo propaganda do próprio apoio da empresa ao grande esporte que é o baseball. Existem mensagens subliminares em todos os anúncios publicitários? A Coca-Cola, com certeza, espera que sim.
E não há nada de errado nisso. Mas o que acontece quando os gostos mudam radicalmente? Isso é um problema grave. Os especialistas estão dizendo que os consumidores repentinamente passaram a preferir bebidas amargas com menos bolhas efervescentes. A Coca-Cola pode modificar a sua receita ou introduzir, digamos, a bebida Coca-Cola Energy? Bem, ela é uma sobrevivente, então tudo é possível. Basta dar uma olhada em todas as marcas que ela adquiriu recentemente apenas para cobrir as suas apostas.
Você sabe o que é ainda mais espetacular que o declínio da Coca-Cola? Olhe para a água engarrafada que a está substituindo. Agora, se os opositores da economia de mercado desejam criticar alguma coisa, trata-se de um caso perfeito. Muito do material da água engarrafada é mais caro que a gasolina, a qual tem de ser extraída da terra e ser refinada num processo incrivelmente complexo, baseado em intenso uso de bens de capital.
Na maioria das vezes, eu não consigo diferenciar uma garrafa de outra. Por falar nisso, eu nunca realmente entendi o que há de errado com a água da torneira. Mas de gustibus non est disputandum (“gosto não se discute”) e tudo o mais.
Se você fosse um planejador central, com a finalidade de definir preços independentemente da experiência de mercado, você estabeleceria o preço da gasolina ou da água engarrafada em patamares elevados? Trata-se de uma escolha muito óbvia, tendo como base tão-somente considerações tecnológicas. Entretanto, os mercados existentes realmente nos demonstraram um resultado diferente de qualquer ideia que um intelectual de fora poderia alguma vez conceber.
De todas as coisas bonitas da economia de mercado, a sua característica mais admirável é a sua capacidade de confundir os intelectuais com surpresas implacáveis e resultados inesperados. Com a sua pura imprevisibilidade, o mercado funciona no universo como uma força que nos torna humildes e como um lembrete de que, neste mundo, o verdadeiro e principal poder sempre residirá nas forças organizadoras descentralizadas da própria sociedade.
As pessoas poderosas podem retardar o progresso do mundo, mas elas não podem impedi-lo de mudar. Graças ao mercado, nós sempre estaremos redescobrindo a grande verdade de que o curso dos acontecimentos mundiais não é algo que alguém nem mesmo uma empresa gigante como a Coca-Cola possa definitivamente controlar.

Como os consumidores exercem o seu poder em uma economia livre (Christopher Westley)


Tradução: Marcelo Werlang de Assis
  
Na história do pensamento econômico, um dos meus economistas prediletos é o grande pensador austríaco Carl Menger (18401921). Embora o mainstream da profissão econômica reconheça o lugar de Menger na ciência econômica em virtude da sua contribuição à “Revolução Marginalista” da década de 1870, ele o ignora porque a sua estrutura teórica não se presta para prescrições de políticas governamentais. Numa época em que a profissão econômica vê a si mesma, em grande medida, como uma ordinária filial do governo — o qual atribui a si próprio a tarefa de administrar a economia , pensadores como Menger (e como os intelectuais que trabalham no arcabouço da sua tradição) não são enaltecidos ou estudados da mesma forma como — e na mesma medida em que — gente da estirpe de Irving Fisher, John Maynard Keynes, Milton Friedman ou Paul Krugman tem sido engrandecida e analisada.
Isso é verdade apenas porque o estado tende a não financiar acadêmicos ou escolas de pensamento econômico que não promovam o seu papel central na economia ou que não forneçam justificativas econômicas para as suas intervenções nas forças do mercado. Se não fosse por essa simbiose com o governo, o estudo do monetarismo da “Escola de Chicago” ou do keynesianismo da “Ivy League” teria atualmente muito menos destaque e proeminência na ciência econômica.
A estrutura teórica de Menger difere de tantas interpretações e concepções modernas da economia porque representa a culminação do desenvolvimento do pensamento econômico que ocorreu ao longo dos séculos até o fatal advento da “era progressista” principalmente na Europa continental, nas mãos dos pensadores escolásticos da Idade Média e nas mãos dos liberais franceses (como Turgot, Cantillon e Say). Tais pessoas podem ter estudado a ciência econômica sob a forma daquilo que passou a ser conhecido como “ciências morais” no século XIX; mas o seu impulso para fazê-lo deveu-se muitas vezes à inata vontade do ser humano de entender melhor o mundo e as leis naturais que o regem. O seu interesse era na economia como economia e não na economia como um simples instrumento político para fazer com que o governo pareça mais científico, eficiente ou benigno. (Na realidade, o governo é exatamente o oposto dessas coisas.)
Portanto, para a finalidade de estudar a economia como uma ciência pura e simples, principalmente numa época em que a confusão econômica parece reinar, iniciar os estudos com Carl Menger não é má escolha.
Menger nasceu na Galícia, uma região então austríaca que agora faz parte da Polônia, em uma família abastada com raízes na Boêmia. Durante os intervalos dos seus estudos de direito nas universidades de Praga e Viena, Menger trabalhou como jornalista econômico, obtendo algum grau de destaque ao escrever romances e comédias que foram publicados em capítulos em diversos jornais.
Foi durante o seu tempo como jornalista que Menger percebeu pela primeira vez a importância das diferenças entre as doutrinas econômicas clássicas sobre os fenômenos de mercado e os eventos do mundo empresarial real que cobriu no decorrer da sua atividade profissional. Logo após receber o seu diploma de direito da Universidade da Cracóvia, em agosto de 1867, Menger mergulhou no estudo formal da economia política numa tentativa de melhor entender e resolver essas discrepâncias um esforço que resultou na publicação, em 1871, do livro Princípios de Economia.
Embora Menger tenha reconhecido que os economistas clássicos fizeram contribuições significativas para o desenvolvimento da teoria econômica, ele considerou que uma das suas principais deficiências se encontrava em suas análises dos consumidores, deficiência essa que talvez estivesse condensada (a) na sua ênfase na teoria do “valor-trabalho” e (b) na sua rudimentar — e até mesmo superficial — teoria dos preços (que explicava os preços como fenômenos resultantes principalmente dos cálculos econômicos feitos pelos empresários). A mais notável contribuição de Menger na sua obra Princípios de Economia foi a introdução da supremacia dos consumidores na determinação do valor e (por extensão) dos preços — e isso não apenas nas típicas transações no mercado, mas também na atividade econômica inteira.
A abordagem mengeriana, que hoje chamamos de “ciência da praxeologia”, enfatizou a importância da ação humana individual decorrente do desejo de satisfazer necessidades percebidas e da relação dessas necessidades com o mundo externo. O fato de haver (1) uma necessidade que se faz sentir e (2) o conhecimento de que o mundo externo possui algumas características que permitem ao indivíduo satisfazê-la proporciona o fundamento para a ação humana lógica e para a valoração subjetiva dos bens (produtos e serviços), tanto dentro quanto fora do âmbito do mercado. Menger, ainda, observou que, à medida que o nosso conhecimento sobre o mundo externo se modifica, também mudam as necessidades individualmente percebidas. Os esforços no sentido de satisfazer necessidades que se fazem sentir pressupõem o reconhecimento das relações de causa e efeito que fornecem a base fundamental de todas as ações humanas.
Observe o quanto uma estrutura teórica dessa natureza é completamente irrelevante para os adeptos modernos das escolas keynesiana e chicaguista. A grande diferença é que essas duas escolas veem o indivíduo (o agente humano) como um mero objeto que precisa ser manipulado em prol do sucesso das suas políticas. Para os chicaguistas, esse sucesso se baseia em resultados de mercado que se aproximam o máximo possível dos seus ideais pré-concebidos em relação à eficiência do mercado; para os keynesianos, tal sucesso se baseia na concretização de arbitrários níveis de emprego a curto prazo que são obtidos, na prática, por meio da penalização da poupança e da promoção do consumo. De acordo com a doutrina de ambas as escolas, o indivíduo a pessoa humana é uma reles engrenagem de uma máquina econômica, devendo ser coagido a agir de maneiras que façam os sistemas delas funcionarem. Esse ponto de vista é moderno as suas raízes se encontram na “era progressista” e contrasta com a ciência econômica desenvolvida desde os trabalhos de Aristóteles até os escritos de Carl Menger (e aprimorada por aqueles que desenvolveram o sistema de Menger).
Todavia, na década de 1870, Menger, ousada e corajosamente, aplicou as suas implicações teóricas na determinação do valor. Menger observou que, uma vez que os bens (produtos e serviços) são externos ao indivíduo e são reconhecidos subjetivamente como detentores de qualidades que possibilitam a satisfação de necessidades, eles poderiam ser discriminados em ordens (categorias) diferentes. No seu livro Princípios de Economia, Menger descreveu os bens de primeira ordem como bens que consumimos para satisfazer necessidades. Trata-se dos bens de consumo.
Os bens de segunda ordem são bens necessários para a produção dos bens de primeira ordem; assim, enquanto que um carro pode ser um bem de primeira ordem que satisfaz a necessidade de transporte, os bens de segunda ordem seriam o vidro, a borracha, o cromo e todos os demais insumos que compõem o carro. Os bens de terceira ordem são todos aqueles bens que são necessários para a produção de bens de segunda ordem e assim por diante, com as formas mais complexas de produção sendo caracterizadas como ordens de produção mais distantes.
Entretanto, o valor de todos os bens de quaisquer ordens é derivado do desejo subjetivo inicial, por parte do indivíduo, de satisfazer uma necessidade que se faz sentir; portanto, a borracha tem valor não em si própria ou no trabalho realizado para a sua produção, mas sim no desejo humano inicial de satisfazer a necessidade de transporte, o que resulta em uma preferência humana por carros. Essa visão dos bens econômicos contrastava fortemente com a noção dos economistas clássicos de que o valor dos insumos econômicos se basearia na sua utilidade técnica na produção. A teoria do valor de Menger significa uma ampliação da Lei de Say (“a oferta cria demanda”); e é a resposta teórica adequada para os excêntricos estudiosos da moeda e do crédito (tanto os da época de Menger quanto os da época atual) que não veem diferença entre o capital criado e gerenciado pelo governo e o capital gerado e administrado pelo setor privado.
Na verdade, o capital gerado e administrado pelo governo satisfaz as necessidades da classe política e dos interesses especiais com ela mancomunados, ao passo em que o capital criado e gerenciado pelo setor privado é direcionado para a satisfação dos desejos dos consumidores.
Se não fosse pela influência do estado no desenvolvimento do pensamento econômico do século XX, é muito provável que Carl Menger seria considerado hoje em dia como um importante economista clássico que corrigiu conhecidas deficiências da escola clássica. E jamais teria sido considerado necessário que a economia clássica se metamorfoseasse ao longo do tempo em diversas escolas neoclássicas caracterizadas pelo uso de ferramentas adequadas somente para as ciências exatas.

sábado, 8 de agosto de 2015

Imagens do Socialismo (Marcelo Werlang de Assis)

(Clique nas imagens abaixo para melhor visualização.)

(Após ver as imagens, clique aqui para ler uma longa compilação, feita por mim, de citações referentes ao socialismo; a partir da página 17, há noções sobre o estado, a propriedade privada, o socialismo e os intelectuais.)

“As classes e as raças fracas demais para assimilar as novas condições de vida devem deixar de existir. (...) Elas devem perecer na tormenta revolucionária mundial.”

— Karl Marx (fonte: Marx People’s Paper, 16 de abril de 1856, Journal of the History of Idea, 1981)


“Fascismo, comunismo e nazismo são apenas variações superficiais do mesmo monstro coletivista. Todos têm o mesmo princípio estatista, negam os direitos individuais, entregam a vida dos seus cidadãos ao poder de um Estado onipotente; e a diferença entre eles é só uma questão de tempo, grau e detalhe superficial, como a escolha dos slogans usados para iludir os seus súditos escravizados.”
— Ayn Rand

A palavra “nazismo” é apenas uma abreviação para “nacional-socialismo”. Na Alemanha, chamavam-se de “nacional-socialistas”, não de “nazistas”.

O socialismo se define como a propriedade estatal de todos os meios de produção (inclusive da força de trabalho dos indivíduos); na prática, sob o socialismo, todos e tudo pertencem ao estado (o aparato de coerção) — i.e., aos políticos e burocratas que comandam o estado.

O nacional-socialismo alemão foi uma adaptação do socialismo soviético às peculiaridades da Alemanha, tendo sido inseridos alguns elementos conservadores e nacionalistas na sua doutrina política; o estado nacional-socialista determinava os rumos da produção econômica e das atividades culturais.

O Programa de 25 Pontos do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, publicado em 24 de fevereiro de 1920, não destoa das ideias dos socialistas brasileiros; a maior diferença está na explícita aversão aos componentes da “raça judaica”.